Demônios

Demônios

 Demônios

Mais uma semana, mais uma porcaria de semana. É tudo o que ele tinha que aturar. Uma semana atrás de outra semana. Um círculo sem fim. Se levantar de manhã chegava a ser doloroso, tomar banho uma tortura, comer era entediante.

Não havia nada que o fizesse se animar um pouco. O trabalho não o animava, sua vida pessoal jamais fôra interessante. Tudo o que ele tinha para fazer o tempo passar era dormir, mas ele não conseguia. Então, ele somente rezava para que os dias passassem e chegasse o dia que ele não se sentiria mais assim.

Às vezes, Rony achava que sempre havia vivido nesse inferno de dias intermináveis, mas sabia que nem sempre fôra assim. Na verdade, ele se lembrava o dia exato que tudo havia começado.

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2 meses antes

Hermione Granger havia chegado cedo ao trabalho naquela manhã de segunda feira. Não haviam casos pendentes, mas isso era algo a ser remediado em breve, já que Harry havia mandado uma coruja pra eles pedindo aos dois que chegassem cedo, pois queria passar um caso para eles.

Não devia ser nada urgente, já que pôde esperar até o início da semana, mas, mesmo assim, era um caso.

Rony estava entediado. Fazia algum tempo que ele não tinha um bom caso nas mãos.

Infelizmente, os casos se mostraram como o que eram. Somente investigações de rotina, tendo como conseqüência pilhas de relatórios a serem preenchidos.

Assim, quando Hermione entrou no pequeno escritório que dividia com Rony, ela se deparou com o homem mais entediado da face da terra. A pilha de elástico e os colares de clips contavam a história de um homem torturado pelo tédio.

Ela riu secretamente. Rony não aceitava bem esse lado de seu
trabalho. A burocracia, as investigações feitas dentro do próprio edifício. Hermione, no entanto, preferia às vezes essa rotina. Isso lhe dava chance de pensar, de distrair sua mente.

“Olá, Rony.”

“Uh”

“Uh? Isso são modos? Diga, Bom Dia Hermione!”

“Fale por você Mione. Eu odeio segunda feira.”

“Rony, ânimo! Se você se comportar eu te levo prá tomar cerveja amanteigada.”

“Ha ha ha. Detesto esse senso de humor na segunda.”

“Ok, Rony. A despeito do seu senso de humor inexistente, nós temos que trabalhar. Harry quer falar conosco.”

Rony seguiu meio a contragosto. Ele sabia que Harry lhes daria algum caso chato para trabalharem. E realmente foi o que aconteceu. Era um caso de vigilância. Vigiar um suspeito de praticar magia negra contra trouxas.

Após dois dias em vigilância e um calor insuportável e um caso onde as provas não levavam a nada, Rony já tinha perdido toda a esperança de se divertir.

O caso parecia ser perda de tempo e Hermione não parecia ver isso. E Rony resolveu deixá-la no hotel e procurar alguma diversão na noite trouxa.

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Rony podia se lembrar com facilidade a última vez que estivera em uma boate, e isso fôra há muito tempo. Hermione tinha levado ele em uma, alguns meses após a guerra, eles estavam juntos e pareceu divertido ir com ela conhecer o mundo dela.

Mas os tempos eram outros e aquela não era exatamente uma boate. Era uma rave. A música techno era ensurdecedora. O ambiente estava lotado e abafado. Era impossível não ser tocado por
alguém.

O cheiro de álcool era enojante. Rony nunca gostou muito de
bebida e muito menos de locais como esse, mas sentiu uma certa atração ao passar de taxi pelo local.

Agora que estava lá dentro já começava a se arrepender da decisão. Até mesmo ouvir seus próprios pensamentos parecia impossível. O pior eram as luzes. Rony sentia sua cabeça doer somente em ver as luzes.

Tinha que sair dali. Tinha sido uma péssima idéia, desde o
princípio.

Não tinha chegado à porta, quando sentiu alguém puxando seu braço com força. O instinto de se virar e agredir a pessoa foi controlado a tempo. Era uma mulher, ou melhor, uma garota de uns vinte anos. Ela o estava chamando para dançar.

Ah! Como se ele pudesse sequer se mover! E mesmo que pudesse não tinha idéia de como dançar esse tipo de música. Ele tentou dizer isso a ela, mas logicamente o caos do local não o deixou
ouvir a si mesmo.

Ele se afastou, deixando que a moça se segurasse na sua roupa. Se ela o queria seguir muito bem, desde que ele não ficasse no meio daquela multidão.

Em breve, Rony já havia chegado ao balcão. Talvez fosse uma boa idéia pedir uma bebida antes de ir embora. A garota ainda estava do lado dele e não parecia que iria desistir tão facilmente.

Ele ouvia que ela dizia algo, mas o barulho não o deixava escutar. Ela se aproximou mais e ele somente conseguiu ouvir uma palavra. Alto. Ele concordou com ela. Talvez ela somente estivesse
dizendo que ele era alto. Bem, não se podia esperar um exercício de
comunicação em um lugar daqueles, de qualquer forma.

Antes que Rony se desse conta já tinha uma bebida nas mãos. Não queria beber, mas já que não tinha outra coisa a fazer decidiu somente ficar mais alguns instantes e depois despachar a
moça. A calma do seu quarto de hotel era tudo o que ele queria.

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Rony já havia bebido ao menos uns quatro copos de alguma bebida que ele sequer se lembrava. O efeito, no entanto, era devastador. As luzes, antes tão invasivas, agora pareciam prismas. Era divertido ver as formas que elas tomavam. As pessoas dançando
pareciam que se moviam em câmera lenta. A música ecoava nos ouvidos dele, fazendo com que seu coração batesse mais rápido.

A garota que o acompanhava se encontrava ainda mais próxima e Rony via a si mesmo beijando a moça, da qual sequer sabia o nome. Mas nada importava. Ele estava se sentindo bem, se sentia vivo. Não conseguia parar de beijá-la, e no fundo achava que não estava sendo correto, mas esse pensamento era somente uma vaga lembrança, da qual ele não queria se inteirar.

À medida que o tempo passava a sensação que tomava conta dele aumentava. Rony estava muito agitado, eufórico até. Nunca se sentira daquela forma. Devia ter sido a bebida, ou algo nela. Mas
isso não importava. Ele queria aproveitar ao máximo aquela sensação.

E foi o que ele fez.

Ao acordar no dia seguinte, com a boca seca, o corpo dolorido, as roupas largadas no chão, ele notou que não estava no quarto de hotel que ele tinha se hospedado. Esse lugar era um motel
barato, de alta rotatividade.

E de alta rotatividade parecia ser sua acompanhante. Rony notou que jamais teria saído em sã consciência com uma mulher daquelas. Ela era vulgar, suas roupas vulgares, a maquiagem que ainda enchia seu rosto era exagerada. Engraçado, na noite anterior ela não parecia tão vulgar.

Foi quando Rony se lembrou da noite anterior. Da euforia que tinha tomado conta dele. Ele tinha certeza de que tinha sido colocado em algum tipo de feitiço e estava, agora, furioso.

Ele acordou a mulher com um empurrão. Rony não gostava de ser rude com mulheres, mas com a raiva que estava sentindo ele não se importava.

“Hey! Calma lá cara!”

“Você me enfeitiçou!”

“ Do que você ta falando, Cara? Enfeiticei? Ficou maluco? Não te roubei nem nada e você ainda transou comigo, então não se faça de inocente, ok?”

Sem dizer mais nada ele se vestiu e saiu. Não sabia o que diria a Hermione caso ela tivesse percebido a ausência dele.

Mas por sorte, ao entrar no hotel, ele foi direto para seu quarto. Teve tempo de tomar banho e se vestir e Hermione não notou nada de estranho quando os dois se encontraram para tomar o café da manhã.

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Rony estava muito silencioso no café da manhã. Hermione o entendia. Aquele caso era uma perda de tempo e Rony estava cansado. Ele não quis comer nada. E Hermione não insistiu em conversar com ele, quando percebeu que seu humor estava péssimo.

Conversaram rapidamente sobre o caso, mas Rony parecia absorto, desinteressado.

O fato era que Rony estava ainda agitado com a droga. Não
conseguia relaxar. Sua mente parecia ir de um pensamento a outro com uma rapidez incrível. Não era possível que a droga ainda estivesse no organismo dele. Que diabos aquela mulher havia colocado na sua bebida?

Ele conhecia um pouco do mundo trouxa, por causa da Hermione, sabia que alguns trouxas usavam algumas substâncias químicas que provocavam um certo efeito de dependência e também sabia de algumas doenças que eram transmitidas pelo sexo.

E isso era o que o perturbava. Ele havia feito sexo com uma total desconhecida, sem proteção. Se ela estivesse doente ele teria sérios problemas. Tinha que encontrá-la, mas somente poderia fazê-lo a noite. O jeito era voltar ao local onde havia encontrado a mulher e torcer para que ela estivesse lá.

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Rony se sentia como se estivesse tendo um deja-vu. Tudo parecia idêntico, a mesma música irritante, as mesmas pessoas bêbadas e alguns drogados. Mas dessa vez ele sabia um pouco mais. E suas intenções eram bem claras. Tinha que achar aquela mulher.

Depois de meia hora naquele inferno ele estava quase desistindo, até que a viu novamente.

“Eu preciso falar com você!”

“O que??”

“Eu disse que quero falar com você.”

“Não estou ouvindo nada, vamos lá prá fora.”

Rony a seguiu para fora da boate. O silêncio lá fora somente
podia ser considerado como tal se fosse comparado com o intenso barulho de dentro. Mas, ao menos, Rony conseguia ouví-la.

“Ok, cara, o que você quer? Outra dose?”

“Não! Eu quero é que você vá até um hospital comigo e faça exames de sangue.”

“Olhe, eu não sou doente, ok? Fiz exames recentemente, se quiser eu
te mostro. Mas não vou prá nenhum hospital.”

“Escuta, você é uma drogada e bastante promíscua, eu não vou correr riscos.”

“Devia ter pensado nisso antes!”

“Eu adoraria, mas fui drogado, lembra?”

“Olha, eu não vou discutir tudo isso com você de novo. Quer ver meu exame de sangue? Então vamos até o meu apartamento. E depois você me deixa em paz. Essa noite tá um saco mesmo.”

Para Rony o que importava era ter certeza que ela não estava
doente. Se tinha que ir até a casa dela para descobrir, então ele iria.

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Rony se surpreendeu ao entrar no apartamento da moça. Céus, ele sequer sabia o nome dela. Tudo era limpo, nada exagerado. Um apartamento simples, mas não muito modesto. Era bem mais arrumado do que o dele próprio.

Enquanto ela ia ao quarto buscar o exame, Rony ficou examinando as fotografias em cima da mesa. Eram da jovem e uma mulher mais velha.

“Minha mãe.”

“Não a vê muito, não é?”

“Não, eu estudo literatura na universidade. Ainda tenho mais dois
anos antes de decidir se volto a morar em Chicago ou fico por aqui.”

“Não sei o seu nome. O meu é Ronald Weasley.”

“Rony? Legal. Prazer, Lina.”

“Bem, Lina. Sinto muito ter agredido você antes, ok?”

“Não tem problema. Eu não costumo fazer aquilo, sabe?”

“Fazer o que?”

“Sexo com um desconhecido. Na verdade eu não sou do jeito que você me descreveu.”

“Sinto muito. Eu estava nervoso. Nunca tinha usado drogas.”

“É. Eu sei como é. Eu usei a meta algumas vezes. Ela estoura a nossa
mente. Uma coisa de louco.”

“Meta?”

“É. Metanfetamina. Só um pouquinho te deixa alto. Mas não dá
alucinações nem nada do gênero. É só prá agitar.”

“Bem, eu não acho que eu precise disso.”

“Nem eu precisava. Mas você gostou, não foi?”

Rony preferia não responder a essa pergunta, mas já sabia a
resposta. Mesmo após horas desde que usara a droga, ainda sentia seu corpo agitado, a mente alerta. Talvez tivesse gostado, mas não queria admitir isso.

Lina entendia essa sensação. Ela mesma havia lutado contra esse desejo de usar a droga mais uma vez e tinha perdido a batalha. Agora admitia que não podia ficar sem ela. Mas ela tentava usar o menos possível.

Ela mostrou os exames a Rony que olhou com disfarçado interesse. Não queria magoar a jovem ainda mais. Em seguida se despediu. Mas antes que chegasse até aporta, Lina o segurou pelo braço, como havia feito na noite anterior.

Em breve ela o estava beijando, e, dessa vez, Rony estava bem consciente do que acontecia. Mas ele não lutou contra o beijo, queria e precisava se sentir desejado, mesmo que por poucas horas, ficava muitas horas tentando imaginar o porquê de não ter dado certo ficar com a mulher que ama. Em breve os dois estavam no quarto dela, e Rony, pelo menos dessa vez, iria se lembrar da noite de sexo com ela.

O que ele não conseguiu entender foi o motivo de ter aceitado, mais tarde, a dose de meta que ela lhe oferecera. Mas o fato era que ele aceitara, e na manhã seguinte ele acordou com a mesma sensação que tomara conta dele na manhã anterior.

E novamente o mesmo problema. Voltar ao hotel sem ser notado.

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A sorte esteve do lado dele mais uma vez. Hermione não percebeu nada e, dessa vez, eles tomaram um café rápido. Segundo o auror do caso que eles estavam cuidando, não havia mais nada a ser feito e Hermione já havia avisado a Harry.

Rony foi direto para casa. Queria tentar dormir, relaxar. Mas a ansiedade tomava conta dele. Ele não conseguia relaxar de forma alguma. Sentia o coração quase disparando, a respiração profunda fazia com que ele inalasse mais oxigênio do que o necessário e ele já estava hiperventilando.

Se não chegasse logo em casa, tinha medo de desmaiar. Ao chegar em casa correu para o banheiro. Vomitou o pouco café da manhã. Suas mãos tremiam descontroladamente. Ele não conseguia ficar parado. Tinha vontade de correr, mas ao mesmo tempo queria descansar.

Era a maldita droga.

Ele lutou contra sua ansiedade e se deitou. Mas após duas horas ele ainda estava agitado, eufórico. Queria fazer mil coisas. Mas seu corpo implorava que ele descansasse.

A luta contra essa euforia o estava deixando mais cansado e ao mesmo tempo nervoso.

Sua cabeça latejava, sua respiração estava tão profunda que sentia os pulmões forçando suas costelas. Seu pulso era acelerado, e ele podia praticamente contar as batidas do coração pelo eco nos seus ouvidos.

Rony já não agüentava ficar dentro do apartamento. Tinha que sair. Já era noite e ele pensou que talvez pudesse correr um pouco. Suar talvez fizesse com que a droga saísse de seu corpo.

Ele correu por uma hora. E suou tanto que já não achava que tinha qualquer líquido no corpo. Mas queria correr mais. Queria tudo mais. Mas não sabia o que era esse mais.

Voltou para casa e se vestiu. Ele não sabia o que iria fazer, mas sabia no fundo o que queria.

Ele queria mais.

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Desde que tudo começara, Rony tivera sempre problemas em manter a questão fora do conhecimento de sua amiga. O que não era nada fácil, já que ela, o conhecendo tão bem, notava qualquer modificação em seu comportamento.

Mas as mudanças ocorridas foram muitas. Rony passou a comer pouco, dormir menos ainda, mas a diferença crucial estava nas mudanças repentinas de humor. Haviam dias que Rony ia trabalhar eufórico, animado com qualquer caso que lhe caísse nas mãos, e em outros dias estava irritado, disposto a desistir de qualquer investigação.

No início essas mudanças de humor eram modestas. Havia um período de dias entre o estado de euforia para o de irritabilidade e depressão. Mas, à medida que o tempo passava, os intervalos diminuíam.

Após dois meses ele já tinha dois dias bons contra quatro ruins, o que era uma média péssima.

Quando estava irritado e deprimido ele tentava usar mais droga, o que o fazia, às vezes, ter alucinações. Mas a situação predominante era a euforia e a depressão.

Hermione não desconfiava de nada. Achava que seu parceiro estava desmotivado, devido a tudo que ele tinha passado. Ela tinha
que lidar com um parceiro altamente irritável. Na verdade, ultimamente, ela jamais sabia se sua próxima frase seria mal interpretada, e se ele não ficaria de cara fechada com ela por alguma bobagem.

Mas ela preferia deixá-lo extravasar suas frustrações a discutir com ele o que estava acontecendo.

Aquela manhã parecia não ser diferente. Rony chegou tarde ao trabalho, seu rosto mais magro e abatido que o normal. Hermione sabia que ele não vinha dormindo direito, mas não ousava discutir isso com ele.

“Olá, Rony.”

Nenhuma resposta. Bem, agora ela sabia como estava o humor dele naquele dia. Já que ele queria o silêncio, ela seguiu para a própria mesa e o deixou quieto.

Rony havia tomado uma cápsula da droga durante a noite e ele nem entendera porque tinha feito isso. Tudo o que ele queria era poder dormir e a depressão que tomara conta dele no dia anterior iria fazer esse efeito nele. Mas ele achou que se tomasse uma dose o seu humor melhoraria e ele talvez até conseguisse dormir.

Foi uma esperança vã. Já eram mais de seis horas desde que tomara o remédio, como secretamente o chamava, tentando enganar-se. Mas a droga não havia feito com que ele se sentisse melhor. Tomar outra era a solução. Ele estava irritado com tudo, se
sentindo mal, e a simples visão de Hermione contente o deixava enjoado.

“Vou tomar um café, quer?”

“Claro, Rony. Obrigada.”

Rony pegou um copo de café para ele e para sua parceira. Ela não percebeu quando ele tomou uma cápsula de “remédio” junto com o café.

Após alguns minutos a droga começou a fazer efeito. Mas não o efeito desejado. A superdosagem lançou Rony em uma crise de pânico. Ele começou a sentir o peito ansiar por ar, sua cabeça latejava, seu corpo tremia. O ar que ele buscava não parecia entrar
em seus pulmões de forma adequada. Ele tinha a impressão que não sabia mais respirar. Se antes respirava achando que não podia fazê-lo, agora ao pensar nisso ele simplesmente esqueceu como inspirar e expirar.

Hermione notou que havia algo errado e correu na direção dele, mas ele estava em verdadeiro pânico, por não poder respirar, por achar que não tinha como sair dali. As paredes do escritório pareciam crescer à sua frente e o chão estava se tornando elástico e
o engolia lentamente.

“Rony? Respira Rony!”

Hermione via que ele não respirava, mas não sabia o que o impedia. Ele estava gelado, em choque, as mãos dele tremiam, e ele não deixava que ela se aproximasse. Em um determinado momento ela temeu que ele a agredisse. Mas, após alguns segundos ele desmaiou. Estando inconsciente seu organismo havia relaxado e em poucos minutos ele respirava. Ainda de forma errática, é verdade, mas ao menos ele respirava.

Ela estava intrigada. O que havia causado aquilo? Ela o examinou e viu que as pupilas estavam ligeiramente dilatadas. Mas isso podia ter sido causado pela falta de ar. O que ela queria saber
era o que havia causado a crise de pânico. Ela chegara a conclusão
de que havia sido isso somente por exclusão. Se as vias respiratórias estavam bloqueadas o simples desmaio não o teria feito respirar novamente.

Ou era uma síndrome de pânico ou ele tinha sofrido uma parada respiratória, o que era estranho devido ao fato que ele jamais tivera problemas desse tipo.

Ela o deixou descansar por alguns instantes. A pulsação já estava voltando ao normal e também a respiração. Ele acordou lentamente.

“Hermione? O que houve?”

“Não sei Rony. Você não conseguia respirar. Já teve isso antes?”

“Não.”

“É melhor você ir comigo a um hospital.”

“Não! Eu estou bem.”

“Rony, eu não vou aceitar não como resposta. Você parou de respirar. E eu não sei porque isso aconteceu.”

“Já disse que estou bem!! Me deixe em paz. Procure outra pessoa prá brincar de médico.”

“Rony...”

“Chega! Eu não vou, Hermione. Entendeu?”

“Entendi muito bem, Rony.”

Hermione o deixou ali mesmo no chão. Se ele não queria ajuda então que não esperasse por qualquer tipo de ajuda vindo dela.

Ela estava zangada com ele, mas ao mesmo tempo preocupada. Voltou para a sua mesa, mas não deixando de ficar de olho nele.

Mas Rony não quis ficar mais ali. Resmungou que iria para
casa e saiu. Hermione queria ir atrás dele, mas ele era um adulto e claramente não queria ajuda dela. Ela não podia correr atrás dele de qualquer maneira.

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Rony ficou dirigindo pela cidade sem um rumo definido. Havia sido injusto com Hermione, que somente queria ajudá-lo. Ele se sentia um idiota. Afastar a única pessoa capaz de ajudá-lo não era, realmente, a decisão mais sensata a ser tomada.

Mas, ao mesmo tempo, o que ele podia fazer? Dizer a ela o que estava acontecendo seria impensável. Entretanto, continuar daquele jeito também não era a melhor opção.

Não havia uma maneira de, simplesmente, parar de usar a droga. Ele jamais conseguiria sem ajuda.

Tudo voltava ao ponto de partida. Ele não queria dizer nada a ela, mas sabia que não havia como escapar disso.

Rony, no entanto, não sentia que tinha forças para isso. Encarar sua amiga, a única mulher que amou e ainda ama e dizer-lhe o que estava ocorrendo parecia ser algo que superava toda sua força interior.

Ele decidiu adiar o inevitável.

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Hermione não queria deixar Rony escapar com tanta facilidade. Havia algo muito errado com ele. Rony parecia estar sempre zangado e deprimido e então, de repente, seu humor mudava.

A médica dentro dela ficava insinuando a verdadeira razão daquelas mudanças. Mas ela conhecia Rony, sabia que ele jamais se envolveria com esse tipo de coisa. Ela mal conseguia formular seu
pensamento. Não tinha coragem de dizer a si mesma o que temia.

Mas tinha que admitir. Os sintomas estavam todos lá. Ele estava tomando alguma droga. Mas o que seria? Tinha que ser droga trouxas, se fosse comprada em algum lugar bruxo todos já saberiam. Rony odiava injeções. Então ela podia descartar heroína
e outras drogas injetáveis. Se ele estivesse cheirando ou fumando algo, ela já teria notado bem antes.

Então, somente restava alguma droga que pudesse ser tomada por via oral. Talvez fosse alguma anfetamina, que apesar disso, tinham os mesmos efeitos viciantes das outras drogas.

Deus, ela estava realmente considerando a possibilidade de Rony estar envolvido com drogas. Já que chegara a esse ponto de conjecturar sobre isso, ela tinha que tomar alguma atitude.

No passado, ela, Harry e Rony resolviam seus próprios problemas pessoais juntos sem interferência de outras pessoas. Então ela foi falar com Harry. Rony confiava em Harry e Hermione tinha certeza de que Harry faria de tudo ao seu alcance para ajudá-lo.

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Hermione hesitou, adiando ao máximo a batida na porta do escritório de seu chefe. Quando finalmente o fez, Harry a recebeu prontamente.

“Bom dia, Hermione.”

“Bom dia. Sinto muito incomodá-lo, mas eu realmente precisava falar com você, a respeito de Rony.”

“Algum problema?”

“Sim, na verdade....Eu... Bom, eu realmente não sei por onde começar.”

“Que tal começar se sentando?”

Hermione sequer havia notado que ainda estava de pé. Seu nervosismo era evidente. Tudo o que ela queria era sair dali e esquecer tudo isso. Mas não podia, por mais que soubesse que o que
estava para fazer destruiria boa parte do relacionamento que tinha
com Rony. Principalmente se ela estivesse enganada.

Ela se sentou e respirou fundo. Antes que percebesse, já havia terminado de contar suas suspeitas à Harry.

Durante todo o tempo ele se manteve em silêncio. Seu rosto não demonstrava qualquer emoção. Hermione começava a achar que ele não havia prestado atenção em nenhuma palavra do que ela dissera.

Mas não era verdade. Harry havia sim ouvido o que ela tinha dito e também ficara surpreso e de certa forma alarmado.

Entretanto, ao contrário de Hermione, ele conhecia os limites das pessoas e sabia que às vezes era bem mais fácil ceder do que enfrentar problemas e terrores, tantas vezes inimagináveis para o cidadão comum.

Rony sempre havia lutado, com tanta energia contra comensais e sua própria culpa. Não era de todo surpreendente que, a algum ponto de sua vida, Rony cedesse a algum tipo de fuga. Harry podia compreender a situação, mas ainda assim tinha que tomar alguma atitude.

“Hermione, foi bom que você tenha me procurado. Se isso for verdade e alguém descobrir, isso pode acabar co a vida dele.”

“Eu sei. Mas o que mais me preocupa é o bem estar dele.”

“Vai ter que ter isso em mente quando ele souber o que nós iremos
fazer.”

Hermione ficou alarmada. O que Harry pretendia fazer?

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Uma sombra larga se juntou à sua própria silhueta. Quando percebeu esse fato, Rony se virou, já na certeza de se ver diante de um agressor. Mas não havia ninguém.

Apesar de seus instintos lhe gritarem o contrário.

A sombra reapareceu e se movia para o outro lado da enorme sala. Rony não sabia onde estava e a escuridão não ajudava. A pouca luz que iluminava a sala apenas servia para criar a sombra que o apavorava.

Rony começou a perceber que estava sonhando. Mas não era um simples sonho. Era pior que um pesadelo.

A grande sombra continuava a seguir lentamente pela sala e ele não conseguia se mover com rapidez suficiente para sair dali.

Quando, finalmente, conseguiu dar um passo à frente, sentiu sob seus pés algo mole, escorregadio e pegajoso. Ele não tinha idéia do que poderia ser, mas foi tomado por uma náusea intensa somente ao imaginar todas as coisas que poderiam ter aquela textura.

Novamente, a sombra se moveu, dessa vez vindo em sua direção.Rony tentou, mais uma vez, correr, mas a substância gelatinosa sob seus pés o fez escorregar e cair estrondosamente no chão imundo.

Seu rosto tocou o chão e sua boca sentiu o gosto da estranha
substância. Era sangue. Imensas, gordas, escorregadias bolhas de sangue coagulado.

Rony começou a cuspir e a náusea tomou conta de seu corpo com violência. Mal conseguia respirar ou se mover.

Um leve estalar de madeira ecoou na sala escura. Um calafrio intenso tomou conta de seu corpo.

Não havia mais nada que ele pudesse fazer. A sombra se aproximava cada vez mais e ele não conseguia se mover. Nem mesmo dizer a si mesmo que era um sonho estava ajudando. Apesar de não ser real, o terror era bastante real.

Rony sentia-se cercado. Olhou em direção à sombra, que agora estava perto o suficiente para tocá-lo. Levantou os braços, tentando se proteger de um possível ataque.

Disse mais uma vez a si mesmo que era um sonho, mas no momento em que sentiu duas mãos fortes agarrando-o pelos ombros e puxando-o com força, Rony já não tinha tanta certeza sobre o que era realidade e o que era imaginação.

Já sem forças para lutar contra sua alucinação, se deixou levar pela sombra. Mas a trégua durou pouco.

Milhões de agulhas perfuravam seu corpo, congelando seus ossos. O frio intenso retirou-lhe o ar dos pulmões.

Rony queria abrir os olhos, a boca, mas não conseguia. Tentou se afastar das agulhas que torturavam seu corpo, mas seus braços e pernas pareciam não mais lhe pertencer.

Ele tentou gritar, mas sua voz desaparecia em meio ao intenso barulho que feria seus ouvidos. Eram pedras em um telhado que retumbavam, sem ritmo, palpitando dentro de seus ouvidos.

A sombra o mantinha preso com força, enquanto gritava algo. Rony tentou entender o que dizia, mas seus próprios gritos, unidos às pedras no telhado, produziam uma cacofonia insuportável.

Quando achou que enlouqueceria, as agulhas desapareceram. Quando achou que ficaria surdo, as pedras cessaram de cair.

O único som que ouvia, agora, era o de seus próprios gritos.

O frio continuava, e ele tremia violentamente. Não conseguia parar de tremer ou de gritar. Depois de algum tempo assim, ele relaxou, vencido pelo cansaço.

Com um último suspiro trêmulo, encostou a cabeça na parede e se deixou levar pelo sono.

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“Como ele está?”

“Eu não sei, Hermione. Realmente não sei. Achei que um banho gelado iria acordá-lo, mas ele adormeceu novamente.”

“Bem, enquanto ele está dormindo não está se machucando.”

Hermione disse isso sem muito convicção. Quando ela e Harry foram ao apartamento de Rony, não pensaram que o encontrariam em condições tão precárias.

Ele havia usado a droga, uma anfetamina, conforme Hermione pôde descobrir ao limpar o apartamento.

Aparentemente, a intervenção dela e de Harry fôra providencial. Quando entraram no apartamento, encontraram Rony deitado no chão, onde havia caído e ferido a boca e o nariz que
sangravam em profusão.

Quando Harry correu para ajudá-lo, Rony foi agressivo, obrigando Harry a usar a força para mantê-lo parado.

Em seguida, o levou para o banheiro, onde, segundo ele, uma ducha gelada seria o suficiente para fazer com que as alucinações terminassem.

Agora, Rony dormia profundamente, mas Hermione não tinha ilusões. Não era um sono inocente, saudável. Era a pura exaustão que produzia um sono sem sonhos e sem repouso.

E repouso era tudo o que os três precisavam e iriam precisar.

Ela sabia que aquela havia sido somente a primeira batalha de uma guerra que poderia durar ainda muito tempo.

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Rony acordou lentamente e sentindo-se estranhamente relaxado. A urgência que, normalmente, tomava conta de seu corpo quando ele se sentia privado da droga, não surgira.

Não se lembrava do que ocorrera na noite anterior, mas sabia que algo acontecera. Uma alucinação ou um pesadelo. Não importava o que havia sido, restava o fato de que tudo estava arrumado demais e pior, ele estava dormindo em sua cama, coisa que dificilmente fazia, principalmente nos últimos tormentosos meses.

Levantou-se devagar, como se não quisesse destruir a sensação de segurança que estava sentindo.

Foi em direção à porta do quarto e ao abrí-la, silenciosamente, viu Hermione e Harry. Uma sensação de pânico o atingiu.

Eles sabiam.

O pesadelo da noite anterior havia sido compartilhado por eles.

Rony, sentindo-se derrotado e, agora, totalmente sem energia, voltou para a cama. Virou as costas para a porta e afundou a cabeça no travesseiro, tentando, comesse gesto, esconder-se, talvez dele mesmo, mas com certeza do mundo que o rodeava.

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Hermione percebeu o movimento da porta e levantou-se para falar com Rony. Harry achou melhor deixá-la tomar esse primeiro passo. Agora que tinham certeza da natureza dos problemas de Rony, não havia necessidade de meias palavras, e, nesse caso, Hermione era a mais adequada para ter uma conversa sincera com ele.

Ela entrou no quarto, encostando a porta atrás de si. Rony estava quieto, parecia dormir, mas sua respiração denunciava sua agitação.

De fato, ele sabia que ela estava lá, mas não queria encará-la.
Dessa vez, no entanto, ela estava mais do que decidida a não deixá-lo virar as costas para ela. Nem que ela ficasse ali mesmo, imóvel, sem fazer absolutamente nada.

Mas não era o que ela tinha ido fazer ali. Se aproximou de seu amigo e tocou-lhe os cabelos, com delicadeza. Ainda estavam úmidos. Talvez ele estivesse com frio, ela pensou.

Levantou-se para pegar o cobertor. Foi quando Rony se virou e lhe falou pela primeira vez.

“Porque ele está aqui, Hermione?”

Seu tom era ao mesmo tempo de surpresa e de raiva, mas ela não se deixou intimidar. Rony parecia ter ficado mais zangado em vez Harry do que ela, o que não era um mau sinal.

“Ele veio me ajudar.”

“Ajudar você? Porque?”

Rony realmente não entendia. Era difícil para ele aceitar que
Hermione precisasse de alguém que não ele próprio. Mas naquele momento ele era incapaz de ajudar a si mesmo. E ela não se sentia forte o suficiente para lidar com ele. Talvez tivesse medo dele, Rony pensou com tristeza.

“Rony, você acha que eu sou capaz de tirar você dessa encrenca
sozinha?”

Ele não disse nada. Tinha chegado a um ponto onde nada podia fazer por si mesmo e agora percebia que o buraco onde se metera era tão fundo que nem mesmo Hermione poderia salvá-lo, sem ajuda.

Mas porque Harry? Depois de tudo o que aconteceu, toda a dor que ele causou. Não queria parecer relutante quanto a sua recuperação. Estava decidido a aceitar ajuda, qualquer ajuda, para sair daquele inferno onde se encontrava.

Mas isso não apagava todos os sentimentos que o invadiam naquele momento. A vergonha, humilhação, medo. Todos sentimentos que já tivera, mas que tentava jamais demonstrar para sua amiga. Mas ao olhá-la nos olhos, ele percebeu que ela sabia, que
Hermione entendia o que ele estava sentindo.

Rony segurou a mão dela em um gesto de confiança e, mesmo que não precisasse dizer nada, ele agradeceu por ela estar ao lado dele.

“Rony, você não precisa me agradecer. Para dizer a verdade, acho
que nos próximos dias você vai me odiar por querer ajudá-lo.”

“Nunca. Eu nunca vou odiar você.”

Ela esboçou um sorriso, que, provavelmente, foi o sorriso mais amargo que já tivera.

Viciados, quando privados da droga, se voltam contra quem os ajuda. São, por muitas vezes violentos. Hermione sabia o que estava por vir, e agradeceu por ter Harry ao seu lado.

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Já eram duas da tarde. Mais de doze horas haviam se passado desde que Hermione e Harry encontraram Rony caído no meio da sala de seu apartamento.

Desde aquele momento a única coisa que ele havia feito tinha sido comer e dormir. Diante dessa calma, Hermione se sentiu segura o suficiente para liberar Harry de suas funções de ajudante.

Ele já havia ido embora horas antes e o silêncio reinava no pequeno apartamento. Hermione não tinha muito o que fazer. Assistia um pouco de TV e até se aventuroua buscar o jornal. Estava quase cochilando no sofá quando ouviu o grito de Rony.

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Ele acordou confuso, encharcado de suor e sentindo dores por todo o corpo. Não conseguia lembrar de onde estava, nem como havia chegado ali. Os poucos segundos de confusão foram suficientes para lançá-lo em um estado de pânico incontrolável.

A entrada de Hermione em seu quarto e sua rápida aproximação, não serviram para acalmá-lo. Em sua confusão ele não a reconhecia, em seu desconforto e dor ele somente imaginou que ela era o inimigo, alguém que o havia seqüestrado.

Antes que Hermione pudesse sequer tocá-lo, Rony saltou em direção à ela, sem se importar com nada, querendo somente se defender do que, segundo ele, era um ataque.

Hermione, por mais que tivesse se preparado psicologicamente para isso, não estava de fato pronta para ver seu amigo saltar enfurecido em sua direção. Por mais que ela sempre dissesse a si mesma que ele não a machucaria, naquele instante ela teve medo. Os poucos segundos antes do ataque não foram suficientes para fazer com que ela reagisse. Mesmo que ela tentasse, na verdade, ela não conseguiria pará-lo.

Antes que ela pudesse se proteger do ataque, sentiu seu corpo ser jogado para trás, sua cabeça bateu violentamente na parede, mas, estranhamente, ela não sentiu uma dor imediata, e, apesar da violência do golpe, ela não desmaiou.

Apesar de ainda estar tonta, ela acompanhou os movimentos de Rony. Viu seu amigo destruir cada peça de mobiliário do quarto. Ele parecia um homem enlouquecido. Batia com os punhos nos móveis, no espelho. Chutava as paredes.

Hermione se encolheu o máximo que pôde. Mais ainda quando alguns chutes a acertaram, com força. Ela recebia os golpes sem tentar se defender, mesmo porque ele poderia se descontrolar ainda mais e ela acabaria bastante ferida.

Após o que lhe pareceram horas, ele se acalmou. Se encolheu em um canto, tremendo e suando, e dizendo coisas desconexas, que ela não podia entender.

Hermione percebia que ele estava mais lúcido, no entanto. Bastava ver seu olhar de medo e culpa. Ele já percebia o que havia feito, mas ela não queria correr nenhum risco em se aproximar dele. Ficou, também, quieta durante algum tempo.

Vendo, no entanto, que Rony não se movia e parecia estar dormindo, ela se levantou. Seu corpo doía, sua cabeça latejava. A confusão do quarto podia ser comparada à uma zona de guerra. Mas ela não tinha forças para arrumar nada.

Rony também não parecia estar em bom estado. Os punhos e braços sangravam, os estilhaços do espelho haviam cortado seu rosto e pescoço.

Hermione saiu do quarto, fechando a porta, e se permitiu, finalmente, chorar abertamente. Na realidade, nada poderia fazê-la parar de chorar, naquele momento, e ela agradeceu por Harry não
estar lá.

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Rony a ouviu deixando o quarto. Ouviu a porta sendo fechada, mas, mesmo assim não tinha coragem de abrir os olhos. Sentia o ambiente abafado. O suor tomava conta de seu corpo. O gosto do sangue em sua boca demonstrava a violência que tivera lugar ali. E ele havia causado tudo aquilo.

Ele tentou chorar, ao menos. Mas não conseguia. Seu corpo tremia e a única coisa que ele queria era poder tomar um comprimido de meta.

A sensação de náusea aumentava, e as dores no corpo estavam ficando cada vez mais intensas. Ele queria pedira alguma coisa a Hermione, mas não tinha certeza de que ela seria compreensiva em relação ao que ele fizera.

Logicamente, ele não pediria a ela que lhe desse a droga, mas sim qualquer outro remédio. Algo que aplacasse a dor e a náusea que ele sentia. Rony, no entanto, não tinha coragem o suficiente para ir atrás dela.

Resolveu procurar, ele mesmo, algum medicamento, uma aspirina que fosse. Começou a vasculhar lentamente e com cuidado, mas, à medida que procurava, mais nervoso ele ficava e em minutos ele estava em uma busca frenética, não mais pela inútil aspirina, mas
sim pela droga, da qual seu organismo sentia tanta falta.

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Hermione estremeceu ao ouvir os ruídos vindos do quarto. Rony estava destruindo tudo de novo, se é que havia ainda algo a ser destruído.

Ela estava com medo, e dessa vez era, realmente, medo dele. Não hesitou nem mais um instante. Tinha que chamar Harry.

Quando ele finalmente chegou, Rony ainda estava agitado e Hermione se perguntava porque ele ainda não havia aberto a porta e começado a destruir o resto do apartamento.

Harry se assustou ao vê-la. Era visível que ela havia chorado, e parecia estar machucada.

“Hermione, você está bem?”

“Isso não é importante agora. O que vamos fazer com ele?”

Hermione estava com medo, era óbvio para Skinner. Raramente ele pôde vê-la assustada e esse era um desses raros momentos.

“O que você quer fazer?”

“Eu quero que ele fique quieto, Ok!? Só isso!”

Harry não disse mais nada. Ele próprio já não sabia o que fazer. Rony continuava a fazer bastante barulho no quarto e era certo que ele não se acalmaria sozinho. Restavam poucas opções.

Internar Mulder em alguma clínica de desintoxicação ou prendê-lo à cama, esperando que a crise de abstinência diminuísse aos poucos. A primeira opção era a mais atraente, mas destruiria a
carreira de Rony, já que ele trabalhava muito em contato com Trouxas e abalaria a sua vida com os muitos fãs que bruxos que ele conseguiu após a guerra. Por mais que Harry e Hermione estivessem zangados com Rony, e quisessem resolver tudo o mais rápido possível, eles sabia que se destruíssem a carreira dele a coisa poderia piorar ainda mais.

Harry tinha consciência de que o trabalho, para Rony, era como a própria vida. Sem isso, e perdendo a confiança em Hermione, em pouco tempo ele estaria de volta ao problema contra o qual lutavam.

Assim, sem ter outra saída, Harry se preparou para um confronto com Rony, estando pronto para amarrá-lo, caso fosse necessário.

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Rony estava exausto, não tinha mais onde procurar a droga. Sua respiração estava se tornando cada vez mais errática, e ele se sentia tonto e nauseado.

Mas, ainda assim, ele não se permitiu sair daquele quarto e encarar Hermione. Talvez, inconscientemente, ele estivesse se deixando sofrer, afastando-se dela, para, ao mesmo tempo expiar sua culpa e privá-la de mais sofrimento.

Quando a porta se abriu, Rony pensou que veria Hermione, mas era seu amigo que vinha em sua direção. A expressão de raiva de Harry era evidente. Mas Rony não se deixou intimidar.

“O que você está fazendo aqui?”

“Acho que você sabe a resposta, Rony. Quer que eu diga em voz alta?”

Rony sabia e não pretendia, de forma alguma, ter a verdade jogada na sua cara. A verdade era que Hermione estava com medo dele. Com certeza ele a atingira, já que dentro do quarto era impossível encontrar qualquer objeto que ainda estivesse inteiro.

“Ela está bem?”

“Sim, Rony, mas não graças a você.”

Harry fez questão de fazer com que Rony se sentisse culpado. Esse sentimento, agora, poderia ser de grande ajuda na recuperação dele. Entretanto, no fundo, Harry disse aquilo quase como uma vingança.

“Eu sinto muito.”

“Tenho certeza de que você sente muito, mas isso não resolve nada e
nem muda o que você fez.”

“Eu não queria fazer aquilo. Acha que eu agrediria Hermione de propósito?”

“Foi antes disso Rony. Você fez tudo errado quando começou a usar
essa porcaria. O que você estava pensando? Que usaria algumas vezes e iria parar quando bem entendesse?”

Rony não respondeu. Ele realmente achara isso. Na verdade, ele não pensara muito sobre as dificuldades que teria caso quisesse parar. Somente achava que, assim como havia começado, poderia
simplesmente parar de usar a droga.

Havia sido ingênuo ou estúpido. Ou ambos.

Abaixou a cabeça e decidiu não discutir mais com Harry. O que ele queria mesmo era conversar com Hermione, mas não teve coragem de dizer isso a Harry.

“Vamos arrumar essa bagunça.”

Harry disse isso em sentido literal, mas também em sentido
figurado, referindo-se não somente à bagunça do quarto, como também do caos que havia se transformado a vida de Rony.

Sem dizer mais nada, Rony começou a juntar os pedaços de móveis e de espelho que estavam por toda parte.

Os sintomas de abstinência haviam diminuído devido à adrenalina que ainda corria abundantemente no corpo de Rony. Mas o cansaço já estava se apoderando dele.

Entretanto, ele não tinha coragem de dizer isso à Harry. Era
melhor não irritá-lo. Em meia hora o quarto já parecia, levemente, mais habitável, e Rony simplesmente desabou na cama e dormiu um sono povoado de monstros, imaginários ou não.

Harry o deixou e se surpreendeu ao não encontrar Hermione no apartamento.

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Ela não havia ido embora, apesar de ser exatamente o que pretendia quando saiu do apartamento. Mas se deteve nas escadas. A única coisa que tinha impedido que ela largasse tudo para trás tinha sido seu senso de lealdade com Harry, afinal ela havia pedido ajuda à ele e não seria justo que ela o deixasse arcar com todo o problema sozinho.

“Se quiser ir para casa, eu fico aqui.”

Hermione se surpreendeu ao ouvir a voz de seu chefe. A oferta era tentadora. Ir para casa e tentar esquecer, mesmo que temporariamente, todos os problemas. Mas ela não se sentia confortável com isso.

“Não é necessário. Eu posso ficar aqui.”

“Mione, isso pode piorar. Ele pode ficar violento novamente.”

“Eu sei, mas não acho justo que você fique tomando conta dele.”

“E é justo prá você, Mione?”

“Depois de tudo pelo qual passamos, de todos os problemas eu simplesmente não posso apenas abandoná-lo, Harry, já fiz isso uma vez quando acreditei naquelas fotos. Além disso, ainda somos amigos, trabalhamos juntos, não posso deixá-lo.”

“Sei disso, desculpe. Eu sei que vocês são muito ligados, mesmo depois do que Lilá fez, acabando com o namoro de vocês, mas você
acha que essa amizade pode resistir a tudo isso?”

Era a mesma dúvida que ela tinha, mas mesmo assim ela se sentia responsável demais para, simplesmente, virar as costas para Rony e, principalmente, para Harry.

“Estou pensando nisso tudo. E minha conclusão é essa. Eu não vou
deixar Rony enfrentar tudo isso sem que eu esteja ao lado dele.”

Em seguida, Hermione voltou ao apartamento de Rony. Estava silencioso lá dentro. Hermione queria ver Rony, mas não conseguia chegar perto da porta do quarto, por mais que soubesse que ele estava mais calmo, naquele momento.

Sentou-se no sofá, sem saber o que fazer ou o que pensar.

Harry sentou-se a seu lado, sem dizer nada. Ele via que ela
estava exausta tanto física quanto mentalmente. Não havia nada que ele pudesse fazer naquele momento, mas ele não queria que ela estivesse sozinha quando Rony acordasse novamente.

Antes que ele se desse conta, Hermione já havia adormecido.

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